Saturday, May 22, 2010

DILMA, NÃO! Os Vícios do Continuísmo e as Virtudes da Alternância



Em qualquer lugar do mundo, o continuísmo é algo arriscado. Na América Latina – onde as forças do populismo, da corrupção, do patrimonialismo e do nepotismo são reconhecidamente mais fortes que em qualquer outro rincão do planeta – os seus malefícios podem ser ainda maiores.

Para além dos riscos e males do continuísmo, também devem serem levadas em conta as virtudes da alternância. A primeira delas é a purificação das instituições e políticas públicas. O processo de purificação se dá de maneira tão simples como eficiente: ao se tornar governo, a antiga oposição tende a manter e usufruir das boas políticas herdadas de seu antecessor e corrigir ou abandonar as más políticas e instuições deixadas pelo seus adversários. O Governo Lula é uma boa manifestação dessa tendência. Depois de haver duramente criticada e combatido a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Plano Real, o superavit primário, 0 manuseio da taxa básica de juros como mecanismo de combate a inflação, o respeito aos contratos e o pagamento da dívida externa, o PT e o presidente Lula mantiveram e até aprimoraram algumas dessas políticas, transparecendo que as viam como práticas positivas para o interesse nacional.




Seria desonesto dizer que a única virtude da administração petista foi a manutenção das boas instituições criadas pelos tucanos. A verdade é que o presidente Lula e o seu partido imprimiram suas próprias marcas. Houve uma correção de rumo: as questões propriamente sociais foram colocadas em um patamar de importância e relevância desconhecido pelo prévio governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. O PROUni, a recuperação do poder de compra do salário mínimo e um programa enfrentamento do deficit habitacional (“Minha Casa, Minha Vida”) são boas políticas resultantes dessa mudança de rumo. Pessoalmente, não acredito no discurso tucano de que primeiro o bolo tinha que ser estabilizado para depois ser repartido. Tenho a impressão que, de fato, faltou sensibilidade ou envolvimento dos tucanos com as variáveis sociais. No entanto, é inegável que aquelas boas instituições deixadas ao PT pelo PSDB foram cruciais para a estabilidade macro-econômica que possibilitou a implementação e o custeio dos programas sociais do presidente Lula.



Contudo, há uma pedra no meio (ou fim) do caminho petista. Se na direção social há práticas e políticas positivas, em outros setores os rumos da gestão lulista perigosamente acercam o país do caos. A política fiscal do PT é um bom exemplo disso. A maneira como os petistas administram as contas públicas não é apenas irresponsável. É insustentável. O México, que produz uma riqueza nacional próxima a do Brasil, tem uma máquina pública que custa 10% de seu PIB, enquanto que o Leviatã brasileiro engole quase 40% do produto anual do esforço produtivo dos brasileiros. Dito diferentemente, os cidadãos mexicanos precisam trabalhar até o início de fevereiro para pagar seus impostos, enquanto que nós temos que seguir suando a camisa até fins de maio para pagar os nossos. Ora, não há nenhuma evidência de que o estado brasileiro seja quatro vezes mais eficiente que o estado mexicano. E, mesmo assim, a pré-candidata petista insiste em defender um Estado ainda mais forte. Você pode dizer: “Isso é injusto!” Então eu diria: Isso não é uma questão de justiça ou injustiça. Isso é simplesmente economicamente insustentável. Ainda que já sejamos a oitava economia do mundo, uma continuidade da administração petista vai acabar esgotando o setor produtivo brasileiro e matando a galinha dos ovos de ouro do altamente caro e custoso Estado brasileiro.
Outra má prática petista está relacionada ao ranço socialista e autoritário do partido e do presidente Lula: a dogmatização do partido. Pior que um aumento inconsistente e insustentável do tamanho do Estado é colocar os interesses do partido acima dos interesses daquele. Na velha e monopartidária União Soviética, o PCUS (Partido Comunista da União Soviética) pairava incólume e imaculado sobre o Estado socialista do Leste. No gigante sul-americano, os camaradas José Genuíno, José Dirceu, Delúbio Soares e qualquer outro “companheiro” que roube ou deixe roubar em nome do partido será acolhido e protegido por ele. Todos cuidam do partido e o partido cuida de todos. É verdade que também houve o “mensalão do DEM”. Mas é também verdade que o DEM expulsou o único governador de sua legenda, enquanto que os lacaios petistas não só foram mantidos, como alguns deles foram lançados candidatos pelo partido, em 2006. Isso é ruím, muito ruím, uma vez que, mesmo que em nome do partido, a tolerância a corrupção é única coisa mais maléfica do que a corrupção em si mesma.



Além da irresponsabilidade fiscal e da fidelidade cega ao partido, contam ainda outros más práticas, tais como a partidarização e aparelhamento da política energética e da política externa do país.
Por tudo isso, é certamente muito arriscado optar pelo continuísmo. Em uma democracia de apenas 25 anos, não me parece prudente conceder 12 ininterruptos anos de governo a um mesmo partido, seja ele qual for. Creio que o PT já nos deu o que de bom tinha pra dar. Outra força política democrática se beneficiará das virtudes da alternância e saberá não só usufruir dos bons programas deixados por FHC e Lula, como também corrigirá – ainda que parcialmente – seus desacertos, livrando-nos assim de parte dos vícios do continuísmo. É tempo de alternar. Vote na Marina (como eu vou fazer), vote no Serra, se preferir (ou ore por uma outra alternativa), mas Dilma... DILMA, NÃO!

3 comments:

  1. Caro Prof. Bueno, estou de pleno acordo com seu texto. Tanto que, para o governo de São Paulo votei num candidado do PT, pois já estou farto do continuísmo do PSDB. Já no governo federal, neste segundo turno votarei em José Serra, pelos motivos que seu texto defende.

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  2. Quatro anos se passaram e o texto continua assertivo!

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