Thursday, July 9, 2009

DIREITA, VOLVER! Mitos sobre a Direita no Brasil

Ironildes Bueno*

Não existem partidos ou líderes políticos de direita no Brasil— pelo menos se levarmos em conta o critério de auto-identificação. Esse procedimento é largamente utilizado, até mesmo pelo polêmico sistema de cotas instituido no ensino superior nacional, pelo qual negro é quem se auto-identifica como tal. Aplicando o mesmo critério para classificar partidos e líderes políticos, pode-se afirmar que de um modo geral não há direita no Brasil. Os líderes políticos não declaram em alta e clara voz “eu sou de direita”! O sujeito, no máximo, é de centro — e preferencialmente de centro-esquerda. Se existe uma direita, ela só existe por exclusão: aqueles que não se identificam como pertencentes à esquerda ou ao centro são “banidos” para a direita. Honestamente, no Brasil ser de direita é impopular. Dizer que alguém é de direita é quase uma acusação, senão um xingamento. A questão é: por que isso acontece? Certamente, a razão disso é o fato de existir no país um grande número de preconceitos e mitos em relação ao que é ser de direita.

O primeiro mito é aquele que relaciona a direita à ditadura. Que a história está cheia de ditaduras de direita não há dúvidas. No entanto, também não há nenhuma dúvida que o número de regimes autoritários de esquerda é ainda infinitamente maior. Por alguma razão, intelectualmente ingênua ou desonesta, muitos formadores de opinião se esquecem rapidamente que eram de esquerda os autoritários e brutais regimes de Maximile Robspierre na França, de Lenin e Stalin na então União Soviética, de Mao Tse-Tung na China, de Ho Chi Mihn no Vietnã, de Daniel Ortega na Nicarágua, de Agostinho Neto em Angola, etc e etc. Isso para não mencionar que o maior símbolo da esquerda latino-americana (o argentino “Che” Guevara) foi um dos fundadores e ideólogos do único regime não-democrático atualmente existente nas Américas. Aliás, é preciso denunciar que a maioria dos professores de História do ensino médio enganam nossos adolescentes, vendendo Che Guevara como um herói da resistencia democrática. É uma pena que a profissão de historiador ainda não seja regulada no país, pois se fosse, alguém teria que ser condenado por desonestidade intelectual, doutrinamento ou algo correspondente! Está mais do que claro que historicamente ditadura não é característica exclusiva ou automática da direita, do centro ou da esquerda.

O segundo mito é o de que ser de direita é ser inimigo do bem-estar social. O que os construtores dessa idéia ignoram, ou pretensamente ignoram, é que durante a Guerra Fria, foram as potências capitalistas situadas à direita do esquerdista bloco comunista que alcançaram os mais altos padrões de vida e de conquistas sociais. É simples: os habitantes de Berlim Ocidental (capitalista) tinham um melhor padrão de vida do que os de Berlim Oriental (socialista) e, por isso, o muro foi derrubado pelos ultimos e não pelos primeiros! Ora, obviamente a questão não é ser a favor ou contra um maior número de pessoas partilhando de boas condições de vida. O que difere a esquerda da direita é o caminho a ser trilhado. Há que ser dito que a direita não só defende uma sociedade em que se possa viver com dignidade, como fortemente acredita que tem a melhor proposta para atingir o legítimo e sustentável bem-estar social.

Existem ainda outros mitos. Alguns deles divorciam a direita dos Direitos Humanos ou impõem um casamento necessário entre direita e corrupção, outros criam um maniqueismo pobre através de uma falsa dualidade esquerda-nacionalista e direita-entreguista. Esses mitos incorrem em muitos equívocos, como o de confundir interesse público com interesse de funcionários públicos ou interesses de outras corporações tão fortes como, em geral, improdutivas.

Roberto Campos – um dos melhores representantes do pensamento de direita no Brasil e, ao mesmo tempo, uma das maiores vítimas dos preconceitos contra o mesmo pensamento –sempre chamou a atenção para os mitos e inverdades disseminados pelos intelectuais de esquerda a respeito da história político-ideológica do Brasil. Na ausência de Campos, uma vez mais é preciso reconstruir o orgulho de ser de direita e de se identificar como tal, plenamente convictos de que isso significa ser democrata, defensor do bem-estar coletivo, dos Direitos Humanos, do meio-ambiente, das minorias e, sobretudo, da liberdade.

Ironildes Bueno é Pesquisador do Centro de Estudos Latino-Americanos da Georgetown University, em Washington.

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